A cada dia minha vontade de partir para um vlog é maior! Só me falta uma câmera, porque nem sempre os textos me satisfazem na transcrição da situação, em sua totalidade.
Mas vamos ao tópico de hoje.
Após participar da manifestação em Campinas, no dia 20/06, que eu comentarei sobre em postagem futura, ou não, notei que diversas camadas sociais estavam por lá. E exatamente este é o foco desta postagem - sobre como rolou tal interação entre as diversas pessoas, e como a grande mídia nos traz isso, e como acabamos interpretando isso.
As manifestações estão sendo tratadas como Marchas da Família com Deus pela Liberdade (inclua aí a luta contra os comunas, de 1964, já que qualquer bandeira vermelha tem de ser abaixada), onde a paz deve imperar. Concordo? No máximo com um protesto pacífico, mas de modo algum passivo. O movimento não é apolitizado, nem teria como ser (isso pode ser assunto pra futuras postagens), então há reivindicações sendo feitas. Mas em algum momento acontece de um bando de 'baderneiros' e 'vândalos' começam a depredação. E agora fica a pergunta: esses vândalos são ou não são manifestantes (note que usarei uma generalização, ainda há grupos com perfis totalmente distintos do apresentado, que provocam vandalismo de maneira que não consigo compreender)? Retomarei a pergunta após uma conversinha com você, coleguinha =]
Notei que, enquanto conversávamos com as pessoas, durante o protesto de Campinas, havia um clima de paz, mas alguns meninos e rapazes, aparentemente nenhum acima dos 25 anos, enquanto trocávamos palavras de ordem e entoávamos cantos, sentíamos um certo rancor da parte deles, que buscavam sempre se expressar de maneira mais violenta, mudando palavras da música, gerando músicas realmente violentas. E foram as mesmas pessoas que quando "o pau comeu", partiram para as zonas de atrito. Eram rapazes que vestiam roupas mais simples que a grande maioria das pessoas que estavam lá, com seus smartphones e gadgets em geral.
Em sua maioria, os agressores a ordem pública consistem em jovens como eu, que estão indignados com a situação do país - só que no caso deles não é só do país. Não são jovens universitários, de classe média, ou média-alta. Sequer tem alguma classe. São tratados como marginais perante outros participantes da manifestação. São sombras, são as pessoas que quando passam perto, as mulheres seguram a bolsa contra o corpo e os homens checam se a carteira está no bolso, ainda. São marginalizados pelos próprios manifestantes.
E não só marginalizados pelos outros manifestantes, são marginalizados pelo próprio ato, que não apresenta causa alguma, ou pouco defende algo favorecendo a população da periferia (como os 20 centavos SIM), tida como marginal. Por vezes, os manifestantes advindos das periferias caminharam por horas para estarem ali, porque as escassas linhas de ônibus que fazem o trajeto até o centro da cidade foram cessadas, por conta da manifestação.
E são marginalizados pelo sistema. Eu não diria pelo governo, pois nos últimos anos houve uma série de medidas que, por mais hipócritas que pareçam, ainda buscaram trazer algum alento aos mais necessitados, mas o sistema os marginaliza. Marginaliza por não terem um atendimento médico, quando necessário, para eles ou para a família; ou quando a mãe cria solteira o filho, porque o pai ou tá preso ou morto - e se não está, trabalha o dia inteiro para um salário mínimo. Marginaliza quando não dispõe escolas de qualidade, ou quando os professores são agredidos por uma cultura impregnada, onde, desvalorizados, não tem o mínimo de respeito dos alunos por eles, e assim os alunos, já cientes de que não tem uma chance de um futuro melhor, corroboram com a situação precária dos profissionais e ajudam a declinar ainda mais a educação (o que gera um ciclo vicioso, diga-se de passagem).
E são marginalizados pelo sistema. Eu não diria pelo governo, pois nos últimos anos houve uma série de medidas que, por mais hipócritas que pareçam, ainda buscaram trazer algum alento aos mais necessitados, mas o sistema os marginaliza. Marginaliza por não terem um atendimento médico, quando necessário, para eles ou para a família; ou quando a mãe cria solteira o filho, porque o pai ou tá preso ou morto - e se não está, trabalha o dia inteiro para um salário mínimo. Marginaliza quando não dispõe escolas de qualidade, ou quando os professores são agredidos por uma cultura impregnada, onde, desvalorizados, não tem o mínimo de respeito dos alunos por eles, e assim os alunos, já cientes de que não tem uma chance de um futuro melhor, corroboram com a situação precária dos profissionais e ajudam a declinar ainda mais a educação (o que gera um ciclo vicioso, diga-se de passagem).
Marginaliza quando o menino, de 14 anos, voltando da escola, toma revista dos PMs só porque é preto e pobre. Marginaliza quando esse menino tem o sonho de ser jogador de futebol, porque é a única chance dele ter uma vida longe da periferia e da violência. Esse menino que muitas vezes quis aquele brinquedo ou o lanche que passou na TV, mas nunca pôde comer. E que quando crescer, ou vai pra bandidagem, ou levar uma vida de cão, ganhando merreca e se enfiando em bares pra que o torpor do álcool faça esquecer um pouco a situação animalesca a que é submetido.
Marginaliza quando a menina, aos 11-12 anos começa a ganhar corpo e o padrasto abusa da menina, que sai de casa ou vai acabar engravidando do padrasto (não que isso permeie apenas a população mais carente, mas o índice destes ocorridos por aqui é sensivelmente maior). Marginaliza a menina que cuida dos irmãos mais novos, limpa a casa e aguenta xingo da mãe, porque não deu conta de todo o serviço; que queria a boneca da apresentadora X ou Y, ou o bebê que respirava - mas nem mãos ia ter pra poder brincar, porque já cuidava de bebê de verdade.
E essas crianças crescem, e viram adultos, viram a própria figura de seus pais. E o padrão se repete, e há um ódio do sistema tão embutido nessa maneira com que vivem, e vivem nessa marginalização há tantas gerações que isso tá estampado no fundo de suas almas. A revolta é muito grande - e eles, mais do que ninguém, querem a mudança do sistema, e são manifestantes, como quaisquer outros. Mas não ensinaram pra eles as palavras bonitas que universitários usam. Não ensinaram a cordialidade para com o próximo; pelo contrário! A visão de polícia que eles tem é dos "hómi" que tão chegando e batem na molecada, por uma certa diversão sádica, só porque esses 'moleques' não podem revidar, e "já são todos bandidos mesmo, então apanha, que não vai ter jeito". Eles não sabem COMO demonstrar toda a revolta, escrevendo um texto, dando um depoimento. Eles foram ensinados pelo sistema, forjados numa violência social - e agora vão cobrar o preço por isso. Vão tomar das lojas os bens que não podem comprar, vão roubar a passatempo da gôndola do mercado, vão tacar pedras nos símbolos do poder público e nas obras públicas. E vão sentir prazer nisso, vão ver nisso uma certa diversão, porque estarão demonstrando o ódio que têm pelo sistema, estarão devolvendo ao sistema a violência que lhes é imposta no dia-a-dia.
Isso é certo? Com certeza não. Mas a violência foi abordada, primeiramente, por qual lado?
Afinal de contas, esses "vândalos", são ou não são manifestantes? Ao meu ver, eles são. E estão lutando, embora de maneira errada, com mais vontade que uma boa parcela das pessoas presentes nos protestos. Note que não me ponho a favor da vandalização, só digo que ela, embora não seja justificável, tem um motivo radical.
Já a galerinha classe média e uns metidos a punks que depredam sem causa, eu só faço o pedido para cessarem esse comportamento indevido, que prejudica o decorrer dos protestos.
Afinal de contas, esses "vândalos", são ou não são manifestantes? Ao meu ver, eles são. E estão lutando, embora de maneira errada, com mais vontade que uma boa parcela das pessoas presentes nos protestos. Note que não me ponho a favor da vandalização, só digo que ela, embora não seja justificável, tem um motivo radical.
Já a galerinha classe média e uns metidos a punks que depredam sem causa, eu só faço o pedido para cessarem esse comportamento indevido, que prejudica o decorrer dos protestos.