domingo, 23 de junho de 2013

Sobre Manifestantes & Vândalos

    A cada dia minha vontade de partir para um vlog é maior! Só me falta uma câmera, porque nem sempre os textos me satisfazem na transcrição da situação, em sua totalidade.
   Mas vamos ao tópico de hoje.
    Após participar da manifestação em Campinas, no dia 20/06, que eu comentarei sobre em postagem futura, ou não, notei que diversas camadas sociais estavam por lá. E exatamente este é o foco desta postagem - sobre como rolou tal interação entre as diversas pessoas, e como a grande mídia nos traz isso, e como acabamos interpretando isso.

    As manifestações estão sendo tratadas como Marchas da Família com Deus pela Liberdade (inclua aí a luta contra os comunas, de 1964, já que qualquer bandeira vermelha tem de ser abaixada), onde a paz deve imperar. Concordo? No máximo com um protesto pacífico, mas de modo algum passivo. O movimento não é apolitizado, nem teria como ser (isso pode ser assunto pra futuras postagens), então há reivindicações sendo feitas. Mas em algum momento acontece de um bando de 'baderneiros' e 'vândalos' começam a depredação. E agora fica a pergunta: esses vândalos são ou não são manifestantes (note que usarei uma generalização, ainda há grupos com perfis totalmente distintos do apresentado, que provocam vandalismo de maneira que não consigo compreender)? Retomarei a pergunta após uma conversinha com você, coleguinha =]
    Notei que, enquanto conversávamos com as pessoas, durante o protesto de Campinas, havia um clima de paz, mas alguns meninos e rapazes, aparentemente nenhum acima dos 25 anos, enquanto trocávamos palavras de ordem e entoávamos cantos, sentíamos um certo rancor da parte deles, que buscavam sempre se expressar de maneira mais violenta, mudando palavras da música, gerando músicas realmente violentas. E foram as mesmas pessoas que quando "o pau comeu", partiram para as zonas de atrito. Eram rapazes que vestiam roupas mais simples que a grande maioria das pessoas que estavam lá, com seus smartphones e gadgets em geral.
    Em sua maioria, os agressores a ordem pública consistem em jovens como eu, que estão indignados com a situação do país - só que no caso deles não é só do país. Não são jovens universitários, de classe média, ou média-alta. Sequer tem alguma classe. São tratados como marginais perante outros participantes da manifestação. São sombras, são as pessoas que quando passam perto, as mulheres seguram a bolsa contra o corpo e os homens checam se a carteira está no bolso, ainda. São marginalizados pelos próprios manifestantes.
    E não só marginalizados pelos outros manifestantes, são marginalizados pelo próprio ato, que não apresenta causa alguma, ou pouco defende algo favorecendo a população da periferia (como os 20 centavos SIM), tida como marginal. Por vezes, os manifestantes advindos das periferias caminharam por horas para estarem ali, porque as escassas linhas de ônibus que fazem o trajeto até o centro da cidade foram cessadas, por conta da manifestação.
    E são marginalizados pelo sistema. Eu não diria pelo governo, pois nos últimos anos houve uma série de medidas que, por mais hipócritas que pareçam, ainda buscaram trazer algum alento aos mais necessitados, mas o sistema os marginaliza. Marginaliza por não terem um atendimento médico, quando necessário, para eles ou para a família; ou quando a mãe cria solteira o filho, porque o pai ou tá preso ou morto - e se não está, trabalha o dia inteiro para um salário mínimo. Marginaliza quando não dispõe escolas de qualidade, ou quando os professores são agredidos por uma cultura impregnada, onde, desvalorizados, não tem o mínimo de respeito dos alunos por eles, e assim os alunos, já cientes de que não tem uma chance de um futuro melhor, corroboram com a situação precária dos profissionais e ajudam a declinar ainda mais a educação (o que gera um ciclo vicioso, diga-se de passagem).
   Marginaliza quando o menino, de 14 anos, voltando da escola, toma revista dos PMs só porque é preto e pobre. Marginaliza quando esse menino tem o sonho de ser jogador de futebol, porque é a única chance dele ter uma vida longe da periferia e da violência. Esse menino que muitas vezes quis aquele brinquedo ou o lanche que passou na TV, mas nunca pôde comer. E que quando crescer, ou vai pra bandidagem, ou levar uma vida de cão, ganhando merreca e se enfiando em bares pra que o torpor do álcool faça esquecer um pouco a situação animalesca a que é submetido.
    Marginaliza quando a menina, aos 11-12 anos começa a ganhar corpo e o padrasto abusa da menina, que sai de casa ou vai acabar engravidando do padrasto (não que isso permeie apenas a população mais carente, mas o índice destes ocorridos por aqui é sensivelmente maior). Marginaliza a menina que cuida dos irmãos mais novos, limpa a casa e aguenta xingo da mãe, porque não deu conta de todo o serviço; que queria a boneca da apresentadora X ou Y, ou o bebê que respirava - mas nem mãos ia ter pra poder brincar, porque já cuidava de bebê de verdade.
    E essas crianças crescem, e viram adultos, viram a própria figura de seus pais. E o padrão se repete, e há um ódio do sistema tão embutido nessa maneira com que vivem, e vivem nessa marginalização há tantas gerações que isso tá estampado no fundo de suas almas. A revolta é muito grande - e eles, mais do que ninguém, querem a mudança do sistema, e são manifestantes, como quaisquer outros. Mas não ensinaram pra eles as palavras bonitas que universitários usam. Não ensinaram a cordialidade para com o próximo; pelo contrário! A visão de polícia que eles tem é dos "hómi" que tão chegando e batem na molecada, por uma certa diversão sádica, só porque esses 'moleques' não podem revidar, e "já são todos bandidos mesmo, então apanha, que não vai ter jeito". Eles não sabem COMO demonstrar toda a revolta, escrevendo um texto, dando um depoimento. Eles foram ensinados pelo sistema, forjados numa violência social - e agora vão cobrar o preço por isso. Vão tomar das lojas os bens que não podem comprar, vão roubar a passatempo da gôndola do mercado, vão tacar pedras nos símbolos do poder público e nas obras públicas. E vão sentir prazer nisso, vão ver nisso uma certa diversão, porque estarão demonstrando o ódio que têm pelo sistema, estarão devolvendo ao sistema a violência que lhes é imposta no dia-a-dia.
    Isso é certo? Com certeza não. Mas a violência foi abordada, primeiramente, por qual lado?
    Afinal de contas, esses "vândalos", são ou não são manifestantes? Ao meu ver, eles são. E estão lutando, embora de maneira errada, com mais vontade que uma boa parcela das pessoas presentes nos protestos. Note que não me ponho a favor da vandalização, só digo que ela, embora não seja justificável, tem um motivo radical.
    Já a galerinha classe média e uns metidos a punks que depredam sem causa, eu só faço o pedido para cessarem esse comportamento indevido, que prejudica o decorrer dos protestos.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

E o Gigante acorda... E pra onde ele vai?

Ladies and Gentlemen, WE ARE LIVE!
    Demorei para escrever aqui, sobre essa tal Revolta/Revolução do Vinagre, mas JURO que foi por uma boa causa. E acho que vou tentar explicar sobre esta causa em mais uma daquelas "paredes de texto", que só quem curte ler as porcarias que eu escrevo vai ter paciência. E vai te consumir uns 10 minutos de vida.
    Pra começo de conversa, seria legal a gente assistir a este vídeo aqui, pra dar aquela emoção, sabe? E vou escrever dum jeito facinho facinho de ler, pra não ficar muito empolado =P

    Então vamos lá! #Vamos_pra_rua ! E para que?
    Ah, não são só os 20 centavos, tem a PEC 37 (que aliás, você que começou a ler o texto, responda com sinceridade: você sabe do que se trata o Projeto de Emenda da Constituição n° 37? Ou tá sabendo só o que o Jabor disse - a PEC da impunidade?), e o fim da corrupção, e... E... E o Brasil acordou!
    Com o perdão da expressão, puta merda. Bacana o lance da mobilização, o flashmob que tá surgindo, ver que a galera percebeu que não precisa estar num estádio de futebol ou no carnaval para falar a mesma língua. Mas o movimento, em si, não passa de um carnaval fora de época, mas é mais pra um carnaval dos coxinhas. E eu tenho medo de como vai se desenrolar esse lance, daqui pra frente, do rumo que esse "Gigante" vai tomar, isso se não voltar pra cama, e dormir "em berço esplêndido" por mais quinhentos e poucos anos.
    Vamos aos #fatos:
I) O protesto começou um dia qualquer em Sampa, com a galera depredando ônibus com o aumento das tarifas. Logo, alguns xexelentos e militantes partiram pra causa e rapidinho tínhamos aquela tradicional cena de estudantes de humanas (é algo quase preconceituoso a se dizer, mas é bem real)  que apoiam os movimentos populares porque acham justo - e eles tem mesmo que apoiar, dar subsídio intelectual nessas situações!
II) A TV, então, caiu de pau, e aí um grupo de amigos resolveu que iria se juntar à baderna e engrossar um pouco o caldo. E saíram às ruas. Como a tarifa de São Paulo é no mínimo abusiva para o serviço fornecido, foi bem bacana a galera ter entrado na roda.
III) E o protesto chegou à internet, com o ar de repressão policial, e um sentimento de injustiça, a galera foi aderindo, aderindo... E os universitários chegando, colocando água no feijão e jogando uma farinha pra engrossar, fazendo aquele tutu que tinha tudo pra terminar na repressão que rolou na USP, em 2009. Mas o golpe de sorte começou aí! A população resolveu que ia aderir aos protestos, justamente pelo lance do abuso da passagem que tá todo mundo de saco cheio! E aí a coisa ficou legal. E era pelos 20 centavos SIM!
IV) Chegamos no clímax do rolê! Aqui foi onde a galera do Movimento do Passe Livre tava caindo de pau, e centenas de pessoas, talvez uns poucos milhares, começaram a instaurar o CAOS pelos 20 centavos, e ERA SIM PELOS 20 CENTAVOS! E algumas outras cidades do país resolveram sair em apoio, e lutar para que esses 20 centavos não saíssem do bolso deles! Foi nessa hora que uma galera começou a azedar o leite, mas dum jeito não muito bom, porque não ia virar queijo, só ia coalhar, sem deixar que virasse nem uma coalhada decente =/
    Uma galera cujos 20 centavos a mais não fariam diferença, mas estavam lutando pelos direitos alheios, resolveu começar a tratar de corrupção e o protesto começou a expandir, a abraçar as causas do mundo inteiro E, pra terminar de colocar a cereja de perdição do movimento no bolo... A mídia, que era contrária, teve alguns repórteres atacados pela polícia.

V) (de Vinagre, onde nossa revolução virou palhaçada):
    A mídia então começou a comprar a ideia dos protestos, e o Facebook ficou lindo, cheio daqueles reacionários que criticavam "bolsa-tudo" no país aderindo ao movimento, cheio de moças que semana retrasada tavam tirando fotos com plaquinhas "As feministas não me representam" ou caras que xingavam os coleguinhas de gays, como pior insulto possível, gente que esperava ansiosa à Copa das Confederações... ESSAS pessoas entraram no protesto, e transformaram o vinho em vinagre. Azedaram a p*rra toda.
    Não fiquei descontente DE MODO ALGUM com todo mundo aderindo ao protesto, mas a manifestação perdeu o foco, deixou de ser pelos 20 centavos, começou a ser pelo fim da corrupção, pelo fim da PEC 37, da PEC 33 e de tantas outras siglas que 1 a cada 10000 manifestantes devam saber o que realmente significam. E começaram a dizer que o movimento não tinha uma causa, e sim, todas as causas.

VI) E agora Jabores e Sheherazardes (ou "Shaarizardes"), a rede Globo e até a Veja começaram a defender, e sabem por quê? Porque acharam uma oportunidade "Gigante, grande como nunca se viu" de fazer o que fazem de melhor: atuar, mascarar e enganar!
 (Uhuuul! Sou livre, não vejo os fiozinhos me puxando!)

    Não se tratava de um ou outro repórter machucado, o que começou a ficar em jogo é a população brasileira! Nada melhor que uma massa de manobra agitada, um povo descrente, para que uma liderança seja sugerida e acatada. Aí começaram a pipocar os coxinhas-revolucionários, aqueles pedindo impeachment da Exc. Sra. Dilma Roussef. Do Haddad. Mas doía falar alguma coisa do Alckmin, então ele foi lá e fez aquele discurso se eximindo de culpas, dizendo que o povo brasileiro é sofrido (pra não falar fodido) e que faltaria guilhotina se soubéssemos 10% do que fazem com a gente. Pois é, agora é tirar a Dona Presidenta do cargo dela e colocar o que? Um Michel Temer? Um Aécio Neves? Quem sabe tentar alocar o Sr. Burns, digo, José Serra? Ou a Marina da juventude, que quer que os jovens estejam do lado dela, diz que vai defender as minorias, mas teve nojo de pegar na bandeira arco-íris, símbolo máximo dos gays, e que quer encher o país com bancada evangélica no congresso?
    Cara, NÃO! Por favor, né?

VII) E o golpe continua, pois agora o movimento é apartidário e defende o fim da corrupção, a melhoria da saúde e da educação, isso, aquilo, aquele outro... E os 20 centavos.
    E o acesso à internet serve para continuar influenciando as pessoas a terem raiva de um país, direcionando cada vez mais para algo pessoal.
    Notemos que o público é de classe média, a galera que tá protestando é classe média, em sua maioria, e da classe C+ e B-, pra ser mais específico. Poucas são as pessoas da periferia. Aqueles que enfrentam uma guerra cotidiana, de um lado traficantes, do outro uma milícia de policiais mal-intencionados, e do outro a polícia mal preparada, que aborda o menino de 13 anos por ser negro e mal vestido no bairro, que joga o "moleque" no chão, suja a camiseta do uniforme, quando voltava da escola. E o único lazer do menino é jogar bola, isso se sobrar tempo, porque tem que trabalhar pra ajudar na casa, e não sobra tempo pra estudar, acaba abandonando o estudo e é o ciclo vicioso. Um ou outro pode continuar estudando, porque o auxílio do bolsa-família, bolsa-escola e até o bolsa-gás permitiu que não começasse a trabalhar aos 14, e conseguiu terminar o 3° colegial, talvez até se apoiar num ProUni para fazer um ensino superior de qualidade duvidosa, mas suficiente para ter um diploma e uma profissão mais razoável. Talvez ele sonhasse em ser professor.
    Aliás, os professores. Profissão mais importante possível, formadores de cidadãos, xingados de merdas e incompetentes por pais, com um prestígio pior que de um traficante (afinal, muita criança quer ser chefe de boca, pra ter algum status na vida), e vistos com maus olhos pela população. E quando foram brigar por salários mais altos, aqui em SP, foram taxados de depredadores de patrimônio público e o movimento deles, com mais de 20 mil profissionais capacitados e querendo melhorar suas condições, foi reduzido na TV pra umas 2 mil pessoas vândalas e preguiçosas. Mais uma vez, puta merda.
Só duas mil mesmo?


    Começamos a nos tornar uma massa de manobra, burra, cega.
    Nossa música de protesto, a postada ali em cima, veio de algo comercial, uma montadora de veículos. Até nossa música tema é fabricada por outrem =/

VIII) E chegamos na intolerância. Intolerância, como assim?
    O movimento é pela democracia, certo? Então porque PORRA as pessoas não podem carregar bandeira de partido? Sério, alguém me explica? É a PORRA do ponto de vista delas, e na democracia as minorias devem ser respeitadas. Minha visão sobre isto: sabe por que não permitem bandeiras de partidos? Porque os partidos envolvidos em manifestações assim geralmente são PSTU, PT, PSOL, PCO... E isso é contra a visão dos burgueses, né, gente!?! Concordo que o movimento é apartidário, e nenhum partido está tomando posição como criador do movimento, mas não podemos boicotar a liberdade de expressão. É como dizer: "mulheres não podem participar do protesto".
    Outra coisa: o machismo tá rolando solto, lá! Vi dúzias de fotos com pichações como "nem sua mãe vale isso", "nem puta custa tão caro". Ou ainda "Pelo fim do funk". CARA! É expressão cultural! Querer o fim de um estilo musical (por menos que eu ou vc gostemos dele) é extirpar uma parte da nossa cultura - e o pior, da periferia, que é quem mais precisa que os direitos sejam preservados, pois são os mais explorados! Quer o fim da corrupção só pra classe média? Quer garantir direitos só pra classe média, é isso? Vota no PSDB então, cacete! Daqui a pouco vão proibir que pessoas cuja família tenha renda percapta menor do que 3 salários mínimos de estar na passeata!!!
    Não se trata de um lance de apartidarismo, trata-se de uma revolução burguesa, que está por acontecer, onde a periferia vai ser ainda mais prejudicada.


No fim das contas, o que eu vejo que precisa ser feito, antes que esse "Gigante" levante, dê uma espreguiçada e volte pra cama, deixando o Brasil do mesmo jeito que tá, só que diferente, é que analisemos cada passo dado, que o movimento seja cautelosamente estudado e que sejam combatidos problemas mais focados, um movimento sem foco não tem objetivo, não tem onde chegar.
Devemos lutar por várias pequenas causas, aos poucos, reivindicando cada direito por vez. O aumento do prestígio dos professores, pela mídia e pela sociedade, depois seus salários, depois jornada de trabalho.
A contratação de mais médicos, redução de jornada de trabalho, melhores condições de trabalho.
A melhoria de saneamento básico nos bairros X, Y, Z.
A condenação de acusados de desvio de dinheiro, com sua prisão e ausência de benefícios ilícitos ou exploratórios, mas de réu por réu.
Ao combate da homofobia, fim da "cura" gay.
E pelos 20 centavos da passagem, como era no começo.

O que realmente nós precisamos não é tirar ninguém do poder, agora. Não precisamos dar um golpe de Estado. Precisamos focar nosso movimento, nosso "Gigante", fazer com que cada passo dado por nossos representantes seja assistido e julgado pelo povo, precisamos fiscalizar todas as medidas decididas nas câmaras de vereadores, deputados, no Congresso... Afinal, nós que colocamos eles lá, não? É nosso dever vigiá-los. E gritarmos, como estamos gritando agora, quando passar aquela mínima ideia de fazer algo errado na cabeça deles.