quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Da universidade pública

    Pois bem, ora! Vou propor um debate para meu maior entendimento do cenário atual, utilizando uma linha de raciocínio talvez pouco ortodoxa. Espero que colaborem =)
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    E era uma festa da rádio muda, então um moço, um universitário, branco, heterossexual, classe média, engenheiro em formação, foi esfaqueado. Quatro vezes. A situação levou a uma briga generalizada, e atualmente a moça, que se disse ameaçada pelo rapaz (onde todos meus amigos e colegas que o conheciam, disseram que ele era um rapaz dócil, simpático, educado e nunca tinha tomado nenhuma atitude nem próxima com o descrito pela moça), assumiu a culpa.
    A festa era ilegal, a moça não era universitária, nem o grupo de amigos dela. Eles sumariamente invadiram a Unicamp e foram à festa da Rádio Muda, onde aconteceu o incidente. Dizem que o rapaz não começou a briga, que tomou uma skatada na nuca, que sofreu espancamentos. Dizem que os seguranças nada fizeram. Dizem muitas coisas. E a universidade tira o dela da reta: a festa era ilegal, a culpa é dos organizadores da festa. E ainda não ouvi uma justificativa dos "organizadores" da festa.
    O debate que rola, entre os alunos, é sobre a continuidade de festas no campus ou não. E acho que é exatamente este, o ponto.
    As festas deveriam ser proibidas? As festas deveriam continuar, como estão? As festas deveriam continuar sim, mas deveria criar um mecanismo para que apenas alunos da universidade possam participar?
    Isso são reflexos da atual conjuntura da universidade.

    As universidades públicas, que geralmente são tidas como melhores (por disporem de mais verba, mais visualização no cenário de pesquisas e principalmente um método de seleção de alunos mais eficaz), são frequentadas em sua maioria por pessoas de classe média e média alta. A educação passou a ser um produto, e não algo que todo indivíduo tem acesso. Paga-se o melhor cursinho para entrar na melhor universidade. E isso gerou uma universidade pública onde o grande público é burguês e teria condições de pagar uma boa universidade particular.
    Não que eu ache que todos esses alunos deveriam sair hoje da Unicamp, USP ou quaisquer outras universidades públicas, mas acho necessário a mudança desse cenário. Ele representa a última instância da segregação social. É o último degrau de ascensão do cidadão. Aquele cidadão que cursou uma graduação em instituição pública terá um respaldo social maior que outros.
    E com o surgimento de graduações a preços baixíssimos, popularizou-se um ensino de qualidade duvidosa, o que aumenta ainda mais este tipo de segregação (mas o foco não é este).

    Acontece que todo setor público, no nosso país, tem o foco de atender à população como um todo, e não em atender um nicho da população, específico, nem visar um lucro pra alguém. Por exemplo o SUS, que qualquer indivíduo pode utilizar, e não há empresas ganhando com isso (não diretamente, e pelo uso do SUS, mas pelos contratos e mimimi); o INSS, onde todos que tiram licenças ou aposentados recorrem; ou os distribuidores de água, de energia elétrica. São acessíveis a toda a população.
    Por que, então, as universidades públicas tem o foco de fornecer profissionais de linha para algumas empresas, e na hora de selecionar seus alunos, já buscam aqueles que estão próximos à elite financeira? É mais cômodo, mas onde fica o retorno social destes órgãos públicos? A educação superior, pública, não deveria prestar um serviço à sociedade?
    O que eu enxergo é uma pseudorealidade na qual os alunos vivem, claramente segregativa, onde apenas seu mundo burguês existe, e o retorno social é algo totalmente desconsiderado. Os projetos em todas as áreas são voltados para empresas que podem pagar e/ou patrocinar os institutos. E o fator social beira o zero. É mais cômodo para a instituição manter esta política, já que na autarquia de cada universidade, o lucro é muito bem vindo. Mas o correto não seria aproximar a universidade da população?
    Se o mundo universitário se aproximasse, pelas vias da extensão, do povo, aplicando tecnologias em situações cotidianas do público regional, teríamos uma dinâmica social mais interessante. Teríamos uma população mais saudável, mais consciente. A educação permearia, do nível superior à grande massa, e traria-se mais pessoas para o cenário estudantil, não abandonaria o indivíduo da classe baixa (que acha que a Unicamp é um hospital e pronto-socorro, somente - ou que é uma 'faculdade paga e cara demais'). Teríamos o contato com toda a população, abrindo o campus para o povo - afinal, o povo deveria desfrutar deste recurso público, e não uma elite =(
    Aproximando a universidade do povo (sim, e deixando os 'manos' e 'funkeiros' entrarem, porque eles tem capacidade sim, e o preconceito reside na cultura de massa, que se adequa apenas aos burgueses; sertanejo universitário é muito mais baixo nível que muito rap e funk por aí, em termo de linguajar e preconceito) teríamos uma universidade mais democrática e a violência diminuiria como um todo. Tanto a violência física, como assaltos, estupros ou esfaqueamentos, quanto a violência da segregação, feita pelos alunos em relação ao "povão" (como criticar os gêneros musicais apreciados pela periferia). Trazer a universidade ao povo, e levar o povo à universidade.
    O ensino superior é só o último nó, o último ponto no reflexo de construção social. Mas se é o último nó, deve ser o primeiro a ser desfeito, ou os seguintes nunca serão. E se há um ambiente onde as pessoas estão dispostas a promover uma mudança social e tem capacidade pra isso, este lugar é a universidade pública.
    Deixe a formação meramente profissional pras universidades particulares. A universidade pública é para o povo!