quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Dilma caiu. E eu com isso?

   31/08/2016. Cerca de 13h30 a então presidenta do Brasil, eleita com mais de 54 milhões de votos, sofreu um processo de impeachment. Foram 60 votos a favor do impedimento, e 21 contrários. Dentre os votos relativos à cassação dos direitos políticos, ou seja, tirar dela a possibilidade de exercer cargos políticos, a votação foi de 42 a 36 - ou seja, não fora suficiente para cassar os tais direitos políticos, o que necessitaria 2/3 de votos a favor da cassação. Isso nos mostra uma situação bastante interessante, onde: i) querem tirá-la do cargo; ii) acham que ela é competente e não deve ser mantida longe do governo, possibilitando que ela atue politicamente - situação totalmente impossível para alguém que comete crime de responsabilidade. Ou seja, os próprios senadores admitiram que não houve crime de responsabilidade, apenas uma falta de interesse em permitir que a então presidenta continuasse seu mandato.

    Dilma caiu. E eu com isso? Eu sou socialmente lido como branco (salvo em recintos específicos, como na faculdade), tenho moradia, uma renda fixa, sou mão de obra especializada (formação técnica em bom colégio, logo me graduo como engenheiro). Não há cenário mais confortável para um recém-formado engenheiro do que a situação na qual vamos seguir. Retirada de direito de trabalhadores, baixa salarial, precarização de serviço; você submete o trabalhador mais braçal a jornadas de trabalho extensas de até 11h, forçando pedidos de demissão - ou demitindo os profissionais qualificados de antes.
   Afinal de contas, pra que pagar um engenheiro com 35 anos de experiência, se pode pagar 25% do salário para um recém formado? E mais, é razoavelmente barato me sustentar, aceito trabalhar em horários absurdos e terei um monte de funcionários terceirizados e desqualificados - sempre jovens, já que os velhos não produzem por terem dores nas costas e cansaço crônico, sob meu comando. Deu problema na produção? Descarta a equipe inteira. Treinamento? Perda de tempo e dinheiro. Tenho costa-larga nessa situação.
   Então por que estou chateado? Não serei eu o tipo de gente mais favorecida pela conjuntura neoliberal e entreguista?

   Ok, vamos analisar sob outra ótica:
   Primeiro posso alocar meu critério emocional. Embora estive por pouco tempo na docência, tive contato com mais de duas centenas de alunos da rede pública estadual, residentes de regiões periféricas. E eles serão, em grande parte, constituintes daquela mão de obra não especializada. As parcas oportunidades de ascensão na vida dessa molecada são dadas com esforço no estudo e no trabalho - com planos de carreira. Na situação onde o empregado mais braçal jamais pode aspirar a uma carreira interna e onde as oportunidades de estudo são cerceadas, por exemplo, com o fim do PRONATEC - já encerrado - e a redução drástica de bolsas no PROUNI e FIEES, tais oportunidades serão zeradas.
   Em casa, temos uma dívida. A taxa básica de juros, como de empréstimos consignados e cheque especial - coisas de pobre, porque rico não faz empréstimo, faz negócios e investimentos, vai piorar muito minha situação. E a taxa selic, o retorno de juros dos investimentos no tesouro nacional, por exemplo, vai subir ainda mais, favorecendo "investidores" milionários cuja única atividade ""produtiva"" é depositar uma quantia nesses bancos de investimentos e retirada de montantes exorbitantes, mês a mês, bancados com impostos pagos pelos pobres.

   O nível de violência cresce, conforme cresce o nível de desigualdade social aumenta. A condição de vida também fica um pouco pior. É só pegarmos os índices dos anos 90, em relação a desemprego, a salário e outros parâmetros. Vamos retornar pra uma situação muito similar.
   Ou seja, num global, estou ferrado. E você, também?

Estou reativando o blog e pretendo fazer postagens periódicas.
Agradeço a quem leu e gostaria muito de debater com vocês a respeito dos temas propostos. É só deixar o comentário ali embaixo.